Platão nasceu em Atenas, provavelmente em 427 a.C. e morreu em 347
a.C. um ano após a morte do estadista Péricles. Seu pai, Aristão, tinha como
ancestral o rei Codros e sua mãe, Perictione, tinha Sólon entre seus
antepassados. Inicialmente, Platão entusiasmou-se com a filosofia de Crátilo,
um seguidor de Heráclito. No entanto, por volta dos 20 anos, encontrou o
filósofo Sócrates e tornou-se seu discípulo até a morte deste. Pouco depois de
399 a.C., Platão esteve em Mégara com alguns outros discípulos de Sócrates,
hospedando-se na casa de Euclides. Em 388 a.C., quando já contava quarenta
anos, Platão viajou para a Magna Grécia com o intuito de conhecer mais de perto
comunidades pitagóricas. Nesta ocasião, veio a conhecer Arquitas de Tarento.
Ainda durante essa viagem, Dionísio I convidou Platão para ir à Siracusa, na Sicília.
Platão partiu para Siracusa com a esperança de lá implantar seus ideais
políticos. No entanto, acabou se desentendendo com o tirano local e retornou
para Atenas.
Platão em seus
estudos conheceu e se aprofundou nas teorias de dois dos maiores filósofos
pré-socráticos, Heráclito de Éfeso e Parmênides de Eléia. Antagônicas entre si,
Platão reconheceu certo acerto na filosofia de ambos os filósofos e procurou
resolver o problema criando sua própria teoria. Concluiu, no entanto, que
Parmênides também estava certo ao exigir que a Filosofia se afastasse desse
mundo sensível, para ocupar-se do mundo verdadeiro, visível apenas ao puro
pensamento.
Com um toque
de seu mestre Sócrates, de quem Platão aproveita a noção de logos, está
criada a teoria platônica e a distinção dos mundos sensíveis e inteligíveis.
Platão afirma
haver dois mundos diferentes e separados: 1) o mundo sensível, dos fenômenos e acessível aos sentidos; e 2) o mundo das idéias gerais (inteligível),
"das essências imutáveis, que o homem atinge pela contemplação e pela
depuração dos enganos dos sentidos".
Para explicar
melhor sua teoria, Platão cria no livro VII da República o mito da Caverna,
segundo o qual imagina uma caverna onde estão os homens acorrentados desde a
infância, de tal forma que não podem se voltar para a entrada e apenas enxergam
uma parede ao fundo. Ali são projetadas sombras das coisas que se passam às
suas costas, onde há uma fogueira. Platão afirma que se um dos homens
conseguisse se libertar e contemplar a luz do dia, os verdadeiros objetos, ao
voltar à caverna e contar as descobertas aos companheiros seria dado como
louco. No mito podemos associar os homens presos à população e o homem liberto
a um filósofo. Os homens presos conhecem apenas o mundo sensível, já o liberto
conheceu a verdadeira essência das coisas, conheceu o mundo das idéias.
O mundo
material, assim, somente se torna compreensível através da hipótese das idéias,
mas tal afirmativa deixa em voga um problema, já que a existência do mundo das
idéias não basta a si mesmo. É necessário admitir um conhecimento das idéias
incorpóreas que antecedem o conhecimento fornecido pelos sentidos, que por sua
vez, somente alcançam o corpóreo.
Platão procura
responder este problema no "Mênon", quando explica que o intelecto
pode aprender as idéias porque ele é, também, como as idéias, incorpóreas. A
alma, antes de prender-se ao corpo, teria contemplado as idéias com os deuses.
Com isso Platão afirma a imortalidade.
Daí, no
entanto, surge outro problema, que o próprio Platão levantou no diálogo
"Parmênides". Se a imortalidade liga a alma às idéias, como explicar
o relacionamento entre as formas e os objetos físicos, entre o incorpóreo e o
seu oposto, o corpóreo?
A relação
entre as formas e os objetos físicos que lhe são correspondentes é a outra
grande questão levantada por Parmênides. Platão procura resolvê-la através das
noções de participação (por exemplo: um animal só é um animal enquanto
participa da idéia de animal em si) e a de imitação, mas ele próprio cria
diversas objeções a essas noções, muitas das quais serão usadas por filósofos
posteriores, incluindo seu discípulo Aristóteles.
O problema que
Platão propõe-se a resolver é a tensão entre Heráclito e Parmênides: para o
primeiro, o ser é a mudança, tudo está em constante movimento e é uma ilusão a
estaticidade, ou a permanência de qualquer coisa; para o segundo, o movimento é
que é uma ilusão, pois algo que é não pode deixar de ser e algo que não é, não
pode passar a ser; assim, não há mudança.
Por exemplo, o
que faz com que determinada árvore seja ela mesma desde o estágio de semente
até morrer, e o que faz com que ela seja tão árvore quanto outra de outra
espécie, com características tão diferentes? Há aqui uma mudança, tanto da
árvore em relação a si mesma (com o passar do tempo ela cresce) quanto da
árvore em relação a outra. Para Heráclito, a árvore está sempre mudando e nunca
é a mesma, e para Parmênides, ela nunca muda, é sempre a mesma e sua mudança é
uma ilusão .
Platão resolve
esse problema com sua Teoria das Idéias. O que há de permanente em um objeto é
a Idéia; mais precisamente, a participação desse objeto na sua Idéia
correspondente. E a mudança ocorre porque esse objeto não é uma Idéia, mas uma
incompleta representação da Idéia desse objeto. No exemplo da árvore, o que faz
com que ela seja ela mesma e seja uma árvore (e não outra coisa), a despeito de
sua diferença daquilo que era quando mais jovem e de outras árvores de outras
espécies (e mesmo das árvores da mesma espécie) é a sua participação na Idéia
de Árvore; e sua mudança deve-se ao fato de ser uma pálida representação da
Idéia de Árvore.
Platão também
elaborou uma teoria gnosiológica, ou seja, uma teoria que explica como se pode
conhecer as coisas, ou ainda, uma teoria do conhecimento. Segundo ele, ao ver
um objeto repetidas vezes, uma pessoa se lembra, aos poucos, da Idéia daquele
objeto que viu no mundo das Idéias. Para explicar como se dá isso, Platão
recorre a um mito (ou uma metáfora) segundo a qual, antes de nascer, a alma de
cada pessoa vivia em uma estrela, onde se localizam as Idéias. Quando uma
pessoa nasce, sua alma é “jogada” para a Terra, e o impacto que ocorre faz com
que esqueça o que viu na estrela. Mas, ao ver um objeto aparecer de diferentes
formas (como as diferentes árvores que se pode ver), a alma se recorda da Idéia
daquele objeto que foi visto na estrela. Tal recordação, em Platão, chama-se
anamnesis.
Para Platão, no entanto, a idéia possui uma realidade própria em si
mesma, é eterna e imutável, existe antes mesmo de ser pensada por uma mente.É o
modelo único e perfeito de tudo quanto em nosso mundo é múltiplo e imperfeito.
Fornece uma descrição mítica como moldura para essa teoria, imaginando um mundo
das idéias no hiperurânio, ou seja, extraterrestre visitado pelas almas durante
a transmigração visitada pelas almas durante a transmigração de um corpo para
outro.
NICOLA, Ubaldo Antologia ilustrada da Flosofia: das
origens à idade moderna ; Maria
Margherita De Lucas. / São Paulo: Globo.2005